Theodoro de Faria ensina música e preserva tradição . Walquíria Domingues
Perto das sedes das bicentenárias Orquestras Ribeiro Bastos e Lira Sanjoanense, na casa 289 da Rua Santo Antônio, a Banda Theodoro de Faria, apesar de não ser orquestra é também melodia da cidade e importante para sua história e formação de novos músicos, motivo pela qual existe hoje, ao passo de completar 110 anos em 2012. “Nós estamos com a idéia de lançar um livro contando a história da banda”, conta Tadeu Nicolau Rodrigues, componente da TF há quase 40 anos. E, “além do livro, vai ter concerto, encontro de banda...”, caso consigam apoio necessário para a comemoração de aniversário de sua rica história musical, que teve início da Ribeiro Bastos.
Nascimento da banda
Augusto Theodoro de Faria, músico da Orquestra Ribeiro Bastos, liderou outros músicos após uma desavença entre a equipe e fundou uma nova banda. A separação, que aconteceu em 1902, fez surgir a Banda do Sr. Augusto de Faria, como era chamada. Ele esteve à frente da corporação até 1917, quando Teófilo Inácio Rodrigues, com o mesmo idealismo de Faria, tomou a frente e iniciou o ensino musical prático para trazer novos integrantes. Fez isso durante 56 anos, lecionando música e prática instrumental, com muita dedicação e competência.
A escola de música da Banda foi e ainda é um celeiro musical. Lutando com extrema dificuldade de recursos, o mestre Teófilo tudo fez para dar continuidade às atividades. Como principal prova de amor à TF, fez de sua casa a sede de ensaios, sala de aula e arquivo musical. “Aonde ele ia morar, a banda ia sempre junto. Tínhamos que alugar uma casa que sempre tivesse uma sala grande, pra banda ensaiar”, conta o músico Tadeu Nicolau Rodrigues, filho de Teófilo, fiel seguidor na Banda. Ele ainda relembra que “em dia de ensaio não tinha jeito de ficar passando na sala. Papai xingava, então a gente tinha que ficar lá pra dentro”, conta.
Teófilo Rodrigues ensinou música a todos os seus filhos, que retribuíram sendo atualmente uns dos responsáveis pela continuidade da TF e da música em SJDR. “Levantávamos com música e deitávamos com música”, recorda Tadeu Nicolau, que é bombardinista, trombonista e trompetista. Há também o Teófilo Helvécio (trombonista, trompetista, saxofonista, compositor, arranjador e regente), além de Anizabel Rodrigues (flautista, cantora, regente e diretora da Escola de Arte Cantábile). “Como a boa árvore dá bons frutos, também seus filhos seguiram seus passos, tornando-se quase todos excelentes mestres e músicos”, escreve Abgar Campos Tirado, em sua homenagem à família de musicistas Rodrigues no Fim de Ano Cultural 2010, em SJDR.
Os instrumentos musicais eram adquiridos de segunda mão e o próprio Teófilo consertava e mantinha tudo com cuidado e capricho. “Restaurava-os ele próprio quando necessário e cedia-os aos aprendizes, sempre buscando favorecer aqueles carentes de recursos”, afirma Abgar Tirado. Hoje, não há nada diferente. Os instrumentos continuam sendo bem cuidados, assim como os uniformes e todo o restante do acervo da banda. “A gente dá o ensino, depois pra tocar damos o uniforme e o instrumento”, conta Tadeu Nicolau, no momento em que ensina flauta doce para duas crianças.
Teófilo faleceu em 1973, mas a banda continuou com seu legado. Ele ainda conseguiu ver oficializado o nome da banda, em 1954, e também o Estatuto elaborado. Além disso, com o apoio da comunidade e do então Pároco do Pilar, Monsenhor Almir de Resende Aquino, a Theodoro de Faria teve o seu primeiro uniforme. A banda também passou a ter uma diretoria e uma sede, que ficou pronta em 1967, e para a Rua Santo Antônio se transferiram a banda, os ensaios e as aulas de música, deixando a casa dos Rodrigues.
De pai para filho
Em 1973 assumiu a direção da banda Oscar Gonçalves Filho, como regente, e Tadeu Nicolau Rodrigues, que deram continuidade aos trabalhos de ensaio musical. Esta pode ser considerada hoje a espinha dorsal da banda. Os cursos de música ministrados na TF são aulas individuais, que facilitam o aprendizado da forma mais prática possível. Assim, rapidamente, crianças e jovens passam a integrar a banda de música. Além disso, “ajuda na educação, no desenvolvimento da mente da criança, na postura”, considera Tadeu Nicolau.
A TF também tem a responsabilidade de tocar há mais de um século nas procissões e celebrações religiosas de São João. O vasto repertório da corporação, importante parte da história musical da cidade, concentra inúmeras composições de autores são-joanenses, músicas clássicas, fúnebres, hinos religiosos, marchas, músicas populares, etc. O arquivo musical, parte proveniente da Orquestra Ribeiro Bastos, reúne importantes manuscritos dos séculos XVIII e XIX. Mostrando as pastas muito organizadas numa pequena sala do porão da sede, Tadeu se orgulha: “Passa o tempo, a gente morre e não vai dar tempo da gente tocar tudo que tem aqui”.
Tradição e contemporaneidade
“A Ribeiro Bastos, a Lira Sanjoanense e a Theodoro de Faria tem esse tempo de vida justamente por causa das festas religiosas. As festas dependem das bandas e orquestras, e a gente tem que estar preparado pra tocar. Estes eventos fazem com que nós tenhamos continuidade”, conta Tadeu Nicolau. A banda está sempre preparada, pra qualquer celebração ou evento. Em cada festa apresentam uma ou duas músicas diferentes. “Vamos trocando o repertório pra não cansar”, diz.
Como fórmula de perseverança, além de ensaios diários, atualmente a TF conta com aproximadamente 60 músicos, na maioria jovens, frutos da escola de música, que por sua vez tem mais ou menos 40 alunos. Para ter acesso aos serviços e atividades da entidade, basta ter no mínimo oito anos de idade e estar matriculado nas escolas regulares de ensino. “O ensino didático de música é gratuito onde temos o lema de ensinar aprendendo e aprendemos ensinando”, diz a diretoria da banda. Além disso, Tadeu acrescenta: “Nosso trabalho é voluntário. Estamos aqui quando a pessoa quer aprender”.
A jovem Janaina de Paula, há quase 4 anos da TF, e a única requintista Banda. “Além de requinte, também toco um pouco de violão, flauta e estou aprendendo trombone”, diz. Ela conta que quando entrou na TF passou a conviver com variados tipos de pessoas, e isso a ajudou muito a crescer na banda e na vida pessoal. “Meu conhecimento musical vem melhorando a cada dia e minha relação com as pessoas também. Desde os meus seis anos de idade eu criei um amor muito grande pela música e mesmo que eu não siga uma profissão musical, vou continuar dedicando um tempo para música, uma vez que ela me desperta prazer, pretendo levá-la comigo por toda a vida”, conta Janaína, que pretende nunca sair da TF e lá ajudar a formar novos músicos. “Seria um prazer muito grande repassar tudo que aprendi”.
Nascimento da banda
Augusto Theodoro de Faria, músico da Orquestra Ribeiro Bastos, liderou outros músicos após uma desavença entre a equipe e fundou uma nova banda. A separação, que aconteceu em 1902, fez surgir a Banda do Sr. Augusto de Faria, como era chamada. Ele esteve à frente da corporação até 1917, quando Teófilo Inácio Rodrigues, com o mesmo idealismo de Faria, tomou a frente e iniciou o ensino musical prático para trazer novos integrantes. Fez isso durante 56 anos, lecionando música e prática instrumental, com muita dedicação e competência.
A escola de música da Banda foi e ainda é um celeiro musical. Lutando com extrema dificuldade de recursos, o mestre Teófilo tudo fez para dar continuidade às atividades. Como principal prova de amor à TF, fez de sua casa a sede de ensaios, sala de aula e arquivo musical. “Aonde ele ia morar, a banda ia sempre junto. Tínhamos que alugar uma casa que sempre tivesse uma sala grande, pra banda ensaiar”, conta o músico Tadeu Nicolau Rodrigues, filho de Teófilo, fiel seguidor na Banda. Ele ainda relembra que “em dia de ensaio não tinha jeito de ficar passando na sala. Papai xingava, então a gente tinha que ficar lá pra dentro”, conta.
Teófilo Rodrigues ensinou música a todos os seus filhos, que retribuíram sendo atualmente uns dos responsáveis pela continuidade da TF e da música em SJDR. “Levantávamos com música e deitávamos com música”, recorda Tadeu Nicolau, que é bombardinista, trombonista e trompetista. Há também o Teófilo Helvécio (trombonista, trompetista, saxofonista, compositor, arranjador e regente), além de Anizabel Rodrigues (flautista, cantora, regente e diretora da Escola de Arte Cantábile). “Como a boa árvore dá bons frutos, também seus filhos seguiram seus passos, tornando-se quase todos excelentes mestres e músicos”, escreve Abgar Campos Tirado, em sua homenagem à família de musicistas Rodrigues no Fim de Ano Cultural 2010, em SJDR.
Os instrumentos musicais eram adquiridos de segunda mão e o próprio Teófilo consertava e mantinha tudo com cuidado e capricho. “Restaurava-os ele próprio quando necessário e cedia-os aos aprendizes, sempre buscando favorecer aqueles carentes de recursos”, afirma Abgar Tirado. Hoje, não há nada diferente. Os instrumentos continuam sendo bem cuidados, assim como os uniformes e todo o restante do acervo da banda. “A gente dá o ensino, depois pra tocar damos o uniforme e o instrumento”, conta Tadeu Nicolau, no momento em que ensina flauta doce para duas crianças.
Teófilo faleceu em 1973, mas a banda continuou com seu legado. Ele ainda conseguiu ver oficializado o nome da banda, em 1954, e também o Estatuto elaborado. Além disso, com o apoio da comunidade e do então Pároco do Pilar, Monsenhor Almir de Resende Aquino, a Theodoro de Faria teve o seu primeiro uniforme. A banda também passou a ter uma diretoria e uma sede, que ficou pronta em 1967, e para a Rua Santo Antônio se transferiram a banda, os ensaios e as aulas de música, deixando a casa dos Rodrigues.
De pai para filho
Em 1973 assumiu a direção da banda Oscar Gonçalves Filho, como regente, e Tadeu Nicolau Rodrigues, que deram continuidade aos trabalhos de ensaio musical. Esta pode ser considerada hoje a espinha dorsal da banda. Os cursos de música ministrados na TF são aulas individuais, que facilitam o aprendizado da forma mais prática possível. Assim, rapidamente, crianças e jovens passam a integrar a banda de música. Além disso, “ajuda na educação, no desenvolvimento da mente da criança, na postura”, considera Tadeu Nicolau.
A TF também tem a responsabilidade de tocar há mais de um século nas procissões e celebrações religiosas de São João. O vasto repertório da corporação, importante parte da história musical da cidade, concentra inúmeras composições de autores são-joanenses, músicas clássicas, fúnebres, hinos religiosos, marchas, músicas populares, etc. O arquivo musical, parte proveniente da Orquestra Ribeiro Bastos, reúne importantes manuscritos dos séculos XVIII e XIX. Mostrando as pastas muito organizadas numa pequena sala do porão da sede, Tadeu se orgulha: “Passa o tempo, a gente morre e não vai dar tempo da gente tocar tudo que tem aqui”.
Tradição e contemporaneidade
“A Ribeiro Bastos, a Lira Sanjoanense e a Theodoro de Faria tem esse tempo de vida justamente por causa das festas religiosas. As festas dependem das bandas e orquestras, e a gente tem que estar preparado pra tocar. Estes eventos fazem com que nós tenhamos continuidade”, conta Tadeu Nicolau. A banda está sempre preparada, pra qualquer celebração ou evento. Em cada festa apresentam uma ou duas músicas diferentes. “Vamos trocando o repertório pra não cansar”, diz.
Como fórmula de perseverança, além de ensaios diários, atualmente a TF conta com aproximadamente 60 músicos, na maioria jovens, frutos da escola de música, que por sua vez tem mais ou menos 40 alunos. Para ter acesso aos serviços e atividades da entidade, basta ter no mínimo oito anos de idade e estar matriculado nas escolas regulares de ensino. “O ensino didático de música é gratuito onde temos o lema de ensinar aprendendo e aprendemos ensinando”, diz a diretoria da banda. Além disso, Tadeu acrescenta: “Nosso trabalho é voluntário. Estamos aqui quando a pessoa quer aprender”.
A jovem Janaina de Paula, há quase 4 anos da TF, e a única requintista Banda. “Além de requinte, também toco um pouco de violão, flauta e estou aprendendo trombone”, diz. Ela conta que quando entrou na TF passou a conviver com variados tipos de pessoas, e isso a ajudou muito a crescer na banda e na vida pessoal. “Meu conhecimento musical vem melhorando a cada dia e minha relação com as pessoas também. Desde os meus seis anos de idade eu criei um amor muito grande pela música e mesmo que eu não siga uma profissão musical, vou continuar dedicando um tempo para música, uma vez que ela me desperta prazer, pretendo levá-la comigo por toda a vida”, conta Janaína, que pretende nunca sair da TF e lá ajudar a formar novos músicos. “Seria um prazer muito grande repassar tudo que aprendi”.
Ajuda do governo e comunidade
Em 2007, o então Governador Aécio Neves e a Fundação Banco do Brasil, doaram instrumentos e dois conjuntos de uniformes para a banda. Isto fez com que ela tivesse um novo impulso. Outra ajuda que a TF recebe, anualmente, vem da empresa Atitude Cultural e do Projeto Ser nobre é ter identidade, que doam kits de agendas, cartazes e calendários de mesa com temáticas são-joanenses, para serem vendidos pela entidade, em que o lucro é revestido para a mesma. Muito agradecido pela ajuda, Tadeu Nicolau diz que “todo o dinheiro que entra na banda, a banda aplica justamente na manutenção de uniformes, instrumentos, e demais materiais, xerox, etc. “Graças a Deus a banda hoje tem uma vida bastante organizada”, diz. Mas, apesar da tranqüilidade de hoje, ainda há muito a ser feito, e uma história para continuar sendo escrita. “Tem gente que vê a banda passar, mas não sabe o trabalho que dá pra colocar a banda em funcionamento”, diz Tadeu Nicolau.